terça-feira, 30 de março de 2010

BC: Alexandre Tombini é nome mais cotado para substituir Meirelles

SÃO PAULO - Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, pediu ao presidente Lula um tempo para pensar e disse que anunciará seu futuro político nesta quarta-feira (31). A encruzilhada é saber se fica à frente do Banco Central, que já está sob o seu comando desde 2002, ou se irá concorrer a algum cargo eletivo no pleito de outubro.
PUBLICIDADE

Se decidir pela última opção, Meirelles tem até o dia 3 de abril para se descompatibilizar de seu atual cargo. Nessa hipótese, o nome mais cotado para sucedê-lo é Alexandre Antonio Tombini, atualmente Diretor de Normas e Organização do Sistema Financeiro do Bacen.

Perfil
Ph.D. em Economia pela Universidade de Illinois, Tombini é funcionário de carreira do Banco Central, no qual participou das negociações dos programas brasileiros junto ao FMI (Fundo Monetário Internacional), além de já ter ocupado as Diretorias de Assuntos Internacionais e de Estudos Especiais.

Para Rafael Cortez, analista político da Tendências Consultoria, a indicação de Tombini "evitaria incertezas e estresse em função da saída do Meirelles em pleno ano eleitoral", já que ele é da diretoria do Banco Central. Além disso, Tombini já substitui Meirelles em algumas reuniões de governo.

Recentemente, Tombini sugeriu a criação de um índice para acompanhar a evolução dos preços no setor imobiliário. "Temos que avançar com a criação de um indicador de preços para monitorar o mercado. É uma lacuna a ser preenchida no curto prazo", disse.

Ata do Copom
Para Cortez, a última ata do Copom causou certa estranheza. Com um tom muito forte e um placar apertado, o analista político acredita que o mercado ficou com a sensação de que o Banco Central já tinha sinais que justificavam uma alta dos juros em março. No entanto, avalia-se que a decisão ficou para abril "na expectativa de criar um ambiente político para o sucessor de Meirelles ganhar maior credibilidade elevando a Selic", aponta.

Cortez, no entanto, descarta esse tipo de análise. “Não faria nenhum sentido, já que a lógica para se ter credibilidade é mexer nos juros quando as condições técnicas para o controle da inflação necessitarem”, indica.

Política monetária
Mas, o que é mais importante, independente do nome que for indicado, Cortez não vislumbra mudanças na política monetária do governo. Em ano eleitoral, Dilma depende da inflação estabilizada, e por isso o analista da Tendências descarta eventual pressão do governo sobre um possível novo presidente do Banco Central.

Por outro lado, enquanto o mercado fala pouco de outras opções que não Tombini, há um perfil bastante definido que seria mal visto. Para Cortez, a indicação de uma pessoa ligada ao Ministério da Fazenda, q ue tem uma equipe mais heterodoxa, causaria mais impacto, por exemplo.

Possibilidades
Huong Kuo Seen, gestor de carteiras da Grau Gestão de Ativos, também aposta no nome do Tombini. "Seria um indicador de continuidade da política monetária adotada até aqui", avalia. No entanto, ele relembra que outro nome já foi aventado, o de Luciano Coutinho, atualmente presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento). Para Kuo Seen, sua indicação poderia trazer um pouco mais de preocupação por ser mais adepto de uma linha desenvolvimentista.



Já Cortez acredita que o nome de Coutinho é pouco provável, até mesmo porque o BNDES tem tamanha centralidade na política do governo após a crise que é pouco provável que Coutinho queira deixar a presidência da instituição.

Vale ressaltar também que na avaliação do analista da Tendências não são poucas as chances de que Meirelles permaneça no atual cargo.

quarta-feira, 17 de março de 2010

BC decide juros, nesta quarta feira; entenda o que está em jogo

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decide nesta quarta-feira se a taxa básica de juros, a Selic, terá algum tipo de alteração ou se o índice será mantido em 8,75% ao ano - a menor taxa da história.

A reunião de diretores e presidente da autoridade monetária ocorre em meio à discussão sobre um possível "excesso" no crescimento econômico, o que já estaria pressionando a inflação para cima.

A maioria dos analistas aposta em um aumento dos juros apenas na próxima reunião do Copom, em abril, mas alguns já esperam uma elevação de 0,25 a 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira.

Além de um suposto superaquecimento da economia, os agentes de mercado apontam ainda a proximidade das eleições presidenciais como um fator que também deve influenciar a decisão do Copom.

Entenda o que está em jogo.

Quais são os argumentos a favor de juros maiores? O crescimento de 2% do PIB no 4º trimestre, considerado expressivo, e a geração recorde de empregos formais no mês de janeiro estão entre os indicadores que contribuíram para o argumento a favor da alta dos juros ainda nesta semana.

Os defensores de juros maiores argumentam que o Brasil está crescendo "acima de seu potencial", ou seja, com o consumo mais forte do que a oferta de bens e produtos.

O resultado dessa diferença, segundo alguns economistas, já estaria sendo refletida não apenas na inflação atual, como também na projeção para meses futuros.

O IPCA, medidor oficial da inflação no país, acumula uma alta de 4,83% nos últimos 12 meses. Para este ano, os analistas consultados semanalmente pelo Banco Central esperam um índice de 5,03%.

O centro da meta de inflação no Brasil é de 4,50%, com uma margem de tolerância de dois pontos percentuais para mais e para menos.

A avaliação de alguns economistas, porém, é de que o objetivo do governo deve ser o centro da meta e que seria menos custoso para a economia agir "de forma preventiva".

"Há consenso no mercado de que os juros precisam subir. A questão é quando. E se a questão é essa, por que esperar? Por que correr o risco de a situação se deteriorar?", questiona o economista-chefe da Máxima Asset, Elson Teles, que prevê uma alta de 0,5 ponto percentual nesta quarta.

A Gradual Investimentos, que também aposta em um acréscimo de 0,5 ponto percentual à Selic, diz em seu relatório que a situação "não é dramática", mas que se o BC não agir agora, "nem que seja de forma discreta, pode tornar mais cara a manutenção das expectativas".

O que dizem os defensores da manutenção dos juros? O principal argumento é de que o aumento da inflação verificado no início do ano seria apenas sazonal, ligado por exemplo ao reajuste das mensalidades e à alta de alguns alimentos.

A inflação, portanto, seria apenas "pontual", o que descartaria a necessidade de uma nova elevação dos juros.

O fato de a inflação (IPCA) do mês de fevereiro ter ficado abaixo das expectativas do mercado, em 0,78%, é apontado como um "sinalizador" de que o índice possa estar arrefecendo.

O grupo favorável à manutenção dos juros em 8,75% também ressalta que "ainda é cedo" para o Copom concluir que a economia esteja rodando a uma velocidade excessiva. Essa também é a posição do ministro da Fazenda, Guido Mantega.

O ideal, argumentam, seria aguardar até que os indicadores econômicos mostrem uma tendência, e não apenas efeitos sazonais.

A avaliação da consultoria Tendências, que aposta na manutenção da Selic, é de que haverá uma "acomodação" da economia brasileira nos próximos meses.

"Esperamos um bom crescimento do PIB, mas não vemos esse vigor se mantendo ao longo do ano", diz o economista Bernardo Wijuniski.

Para ele, a retirada dos estímulos fiscais, que impulsionaram o consumo no ano passado, vai permitir uma recuperação "mais gradual".

"Achamos que o BC pode deixar para aumentar a Selic em abril e assim ter mais tempo para olhar os indicadores de março", acrescenta o economista da Tendências.

Ainda segundo Wijuniski, o Banco Central não deu sinais de que aumentaria os juros em seus últimos documentos, um ritual "obrigatório", segundo ele.

Quais são as implicações políticas da decisão? Com a proximidade das eleições presidenciais, a decisão sobre os juros ganha uma relevância política ainda maior.

No Palácio do Planalto, as opiniões estão divididas, segundo um assessor. Parte da equipe do presidente Luiz Inácio Lula da Silva defende que ainda não há embasamento técnico suficiente para uma alta da Selic nesta semana.

Além disso, aumentar a Selic no momento atual seria "delicado", em função das discussões sobre alianças e anúncios de candidatura.

Um outro grupo, porém, prefere um "pequeno aumento" de 0,25 ponto percentual para já. Nesse caso, o argumento é de que a decisão diminuiria as expectativas de inflação, sem grande impacto eleitoral.

Quais são as consequências de juros mais altos? O aumento dos juros é um dos principais instrumentos para o controle da inflação, mas tem seus efeitos colaterais.

A taxa básica de juros da economia, a Selic, funciona como uma referência para todo o sistema de crédito no país.

Com isso, se a Selic sobe, a tendência é de que os bancos acompanhem esse movimento, cobrando mais caro pelo crédito oferecido a seus clientes.

Mesmo com a Selic a 8,75% ao ano, a menor da história brasileira, ainda assim o país tem a taxa de juros reais (descontada a inflação) mais alta do mundo.

Além disso, quanto mais altos são os juros, maiores são as chances de real se valorizar em relação ao dólar, o que prejudica principalmente os grandes exportadores.

Alguns especialistas defendem que a Selic seja usada para "calibrar" o câmbio, evitando assim uma valorização excessiva do real. Essa é a posição, por exemplo, de representantes da oposição, incluindo o governador de São Paulo, José Serra.

O presidente do Banco Central, no entanto, é contrário à ideia, com o argumento de que o foco da política monetária brasileira é a inflação, e não o câmbio.

Como está a trajetória dos juros em outros países? Durante a fase mais aguda da crise financeira global, a partir do final de 2008, diversas economias, entre ricas e emergentes, entraram em um processo de corte de juros como forma de estimular o consumo.

Alguns países, no entanto, já entraram em uma fase de franca recuperação e passaram a se preocupar mais com o fantasma da inflação do que com as consequências da crise.

Entre os países do G20, o primeiro a adotar o aperto monetário no período pós-turbulência foi a Austrália. O processo começou em setembro passado e taxa do país atualmente é de 4% ao ano.

Em dezembro foi a vez de Israel e Noruega anunciarem a elevação dos juros. De acordo com a previsão de analistas, países como Índia e Malásia devem seguir o mesmo caminho ainda esse ano.

Já as principais economias ricas ainda sofrem com os efeitos da crise continuam preocupadas em estimular seu consumo interno.

Na terça-feira, o banco central americano anunciou que as taxas de juros nos Estados Unidos continuarão baixas "por um longo período", até que existam "claras evidências" de uma recuperação econômica. A taxa de juros americana é de 0,25% ao ano.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Meirelles pede acesso a inquérito em trâmite no STF no qual é suspeito

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, informou ontem, por meio de nota, que formalizou pedido para ter acesso às 105 páginas do inquérito em trâmite no STF (Supremo Tribunal Federal) em que é suspeito de praticar crimes contra a ordem tributária.

Ele disse ter tomado conhecimento do assunto pela imprensa e alega não saber do que se trata. Meirelles contratou o advogado Márcio Thomaz Bastos, ex-ministro da Justiça de Lula, para fazer a sua defesa.

O inquérito (número 2.924), em que o presidente do BC aparece como indiciado, foi protocolado no Supremo na semana passada. O caso será relatado pelo ministro Joaquim Barbosa, que também cuida do processo do mensalão do PT. Sua procedência é a Justiça Federal do DF, segundo informou o Ministério Público Federal.

Segundo nota divulgada pelo banco, houve um pedido do Ministério Público para abertura de inquérito no STF. O processo foi encaminhado ao tribunal porque Meirelles tem status de ministro de Estado desde 2004, o que garante foro privilegiado.

Questionada sobre o caso, a assessoria da presidência do STF reiterou que houve indiciamento, como consta na movimentação processual do inquérito 2.924, mas ressaltou que ainda não há nenhum juízo do Supremo sobre o caso.

O inquérito foi encaminhado ontem para o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, que vai analisar o processo e indicar diligências. Autor da ação, é o Ministério Público Federal quem vai sugerir ou não a eventual denúncia contra Meirelles.

Gurgel disse ontem que não foi o Ministério Público o órgão responsável por encaminhar o inquérito ao STF. "Provavelmente é um desdobramento de outra investigação", afirmou.

Na nota, o presidente do BC disse ter sido "amplamente investigado no passado, com o arquivamento de todas as acusações a ele imputadas". Ainda segundo Meirelles, seu patrimônio foi construído quando trabalhava fora do país, com a "divulgação periódica de seus rendimentos nos documentos oficiais da instituição que presidia" -o BankBoston.

Meirelles, que se filiou ao PMDB no final do ano passado, deve deixar o comando do BC até o início do próximo mês. Ele deve ser candidato nas eleições deste ano, provavelmente a uma vaga no Senado por Goiás -seu nome foi cotado também para ser vice na chapa da pré-candidata Dilma Rousseff (PT).

A saída dele da presidência do BC ainda não foi oficialmente comunicada ao presidente Lula. Os dois conversaram anteontem, mas, segundo o porta-voz da Presidência, Marcelo Baumbach, não se tratou do assunto.

Mesmo sem ainda ter sido informado ou consultado por Meirelles, Lula reafirmou que prefere que ele permaneça no comando do Banco Central até o fim do governo, disse o porta-voz. Se deixar o cargo, Meirelles perde direito ao foro privilegiado no STF.