domingo, 21 de outubro de 2007

Banco Central, que já mostrou que não dá a menor bola nem para o presidente, quanto mais para um subordinado como o ministro (Clóvis Ross)


Ausências que preenchem lacunas

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - A Bélgica está sem governo há uns quatro meses. Divergências entre os partidos da francófona Valônia e da flamenga Flandres. Por "sem governo" entenda-se a superestrutura política, o gabinete. O resto funciona.
Os policiais policiam, os impostos são cobrados (ou sonegados) como de costume, os trens chegam e saem mais ou menos no horário, o metrô roda placidamente, tão placidamente que nem catracas tem, continuam à venda em cada esquina os imperdíveis "gaufres" ("waffels", feitos na hora, até fumegam à primeira mordida). Imagine situação similar no Brasil (calma, "zelites", não estou falando do atual governo, mas de qualquer governo).
Digamos que o ministro da Fazenda saia e não seja designado substituto. Caem os juros? Depende do Banco Central, que já mostrou que não dá a menor bola nem para o presidente, quanto mais para um subordinado como o ministro.
E as exportações, aumentam ou diminuem? Vale lembrar o óbvio: governos não exportam; empresas exportam. Logo...
Digamos ainda que o ministro da Saúde tire férias de uns três anos. Aumenta o número de mosquitos da dengue? Não depende dele, diz a propaganda do próprio governo, mas de todos nós. Logo...
Sai o ministro de Minas e Energia. Ah, já saiu faz tempo e não foi substituído? Então, deixa pra lá. Sem governo, o Corinthians sai da zona de rebaixamento? Depende do Lulinha, não do Lula (Lulinha o jogador, não o filho do presidente).
Ah, tem um quesito em que o governo é de fato decisivo: sem governo, o senador Renan Calheiros teria sido cassado.
Se é assim, um brinde para a Bélgica, até porque, com ou sem governo, continua fabricando e vendendo 717 marcas de cerveja. Mas beba com moderação que amanhã é segunda, tem governo, tem dengue e tem juros.

crossi@uol.com.br

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2110200703.htm